segunda-feira, 14 de maio de 2007

9º Ano

Continua aqui o teu texto sob a forma de comentário

domingo, 13 de maio de 2007

11º Ano

Continua aqui o teu texto sob a forma de comentário.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Acho que este vídeo se adapta bem à ideia que subjaz à criação deste espaço de interacção: liberdade de criação!
(Além disso, também se pode apreciar a música dos Pink Floyd...)

terça-feira, 1 de maio de 2007

Porquê este espaço?

Há alguns anos,fiz uma experiência de escrita colaborativa com uma turma de 7º ano que resultou num trabalho formidável. De então para cá, não se tornou viável operacionalizar de novo a actividade, mas a ideia persistiu. Pareceu-me ter chegado agora a hora de a colocar, de novo, em prática.
Assim, este será um espaço onde os meus alunos poderão vir colaborar num projecto de escrita que ficará, de imediato, disponível para a comunidade. De qualquer forma, começar-se-á, sempre, num regime de experiência; depois se verá.

Para aguçar o apetite, aqui deixo o trabalho dos alunos do 7º ano, turma D, da Escola Secundária Fernão de Magalhães, no ano lectivo 2002-2003.

O TROMPETE CENTENÁRIO COM COBERTURA DOURADA






A professora de Inglês, que era também directora da escola, aproveitou uma aula de Estudo Acompanhado para conversar com os seus alunos e pedir a sua colaboração para o espectáculo que se ia realizar para festejar Os 100 Anos do Liceu.



Os alunos ficaram muito entusiasmados e começaram logo a dar sugestões. Resolveram até pedir ao do pai do João, que era maestro, que fosse com a sua orquestra tocar na festa, que eles já imaginavam um sucesso. Ele concordou logo com a ideia e até prometeu levar um trompetista francês que estava em Portugal, e que era conhecido por tocar com um trompete centenário valioso graças à sua cobertura de ouro.

Outro aluno também se lembrou de convidar o grupo de Ballet do qual a mãe era professora e onde dançava uma bailarina famosa. Claro que o grupo também concordou.

Nas semanas que se seguiram houve muito trabalho para fazer. A escola foi limpa de alto a baixo, os azulejos brilhavam como nunca e a madeira do chão foi encerada, o que espalhava um profundo cheiro a cera por toda a escola. Foi chamado um canalizador para arranjar alguns canos e também este se mostrou muito interessado na festa tanto que durante o seu trabalho se fartou de fazer perguntas aos funcionários sobre o trompetista francês e o seu trompete com cobertura de outro. Entretanto, os alunos decoravam os textos, os músicos ensaiavam as peças que iam tocar e os convites estavam a ser impressos.

Passaram-se algumas semanas. Estava perto o dia tão esperado! Os preparativos estavam a ser ultimados. Os alunos já sabiam os seus textos, o teatro estava bem ensaiado, os discursos bem preparados, os convites enviados, as bailarinas estavam prontas com os seus números de Ballet que tanto ensaiaram e os músicos sabiam bem o que iam tocar.

A bailarina mais famosa de todas, a mais bonita e esbelta, fazia perguntas muito estranhas à directora, como por exemplo onde estava o contador da luz, se havia saídas de emergência… Parecia preocupada, mas a directora, como estava tão atarefada com a organização da festa, nem ligou àquelas perguntas tão estranhas.

O palco estava pronto e todas as acomodações para os convidados estavam a cem por cento.

Finalmente o grande dia, ou melhor, a grande noite, chegou! Tudo estava perfeito, mas o momento que todos mais aguardavam com séria expectativa e nervosismo era mesmo a actuação do trompetista francês do trompete centenário com cobertura de ouro.

Mesmo achando que tudo estava perfeito, o electricista foi confirmar se estava tudo bem com os holofotes e ofereceu-se para ficar nos bastidores, pois podia acontecer algum imprevisto…

Finalmente a festa ia começar!

Apesar de estar no programa que a festa começaria com a actuação da bailarina, acabou por ser o trompetista a actuar primeiro porque ela, inexplicavelmente, se atrasou. Porém, quando o trompetista se preparava para começar a sua actuação, falhou a luz! Os alunos, muito preocupados, foram imediatamente à procura do electricista que tinha dito que ia ficar nos bastidores, mas que tinha desaparecido. Quando finalmente ele apareceu, muito afogueado, dizendo que precisara de ir ao quarto de banho, foi ver o que tinha havido com a luz e rapidamente resolveu o problema pois, disse ele, tinha sido apenas um disjuntor que disparara.

Quando se acenderam as luzes de novo, tudo estava tudo num pandemónio: eram alunos, professores, funcionários, pais, convidados, uns caídos para o chão, outros nas escadas devido à agitação e enorme confusão que se havia gerado… Ainda demorou algum tempo até a calma se restabelecer e tudo voltar à normalidade para a festa finalmente começar. Porém, o trompetista e o seu trompete centenário com cobertura de ouro, esses ninguém os via. Tinham desaparecido!

O trompetista foi finalmente encontrado, deitado no chão, desmaiado, mas o seu trompete centenário com cobertura de ouro tinha desaparecido! Alguém tinha roubado o trompete centenário com cobertura de ouro! O trompetista foi imediatamente levado para a área hospitalar, enquanto a directora da escola mandou professores e alunos procurar o trompete centenário com cobertura de ouro antes de dar o alarme e assustar todos os convidados que se encontravam na festa.

Toda a escola foi revistada e nada foi encontrado.

Quando o trompetista francês acordou desesperado e não viu o seu trompete centenário começou a perguntar por ele incessantemente a toda a gente A directora tentou acalmá-lo e contou-lhe tim-tim por tim-tim o que havia sucedido: a falha de luz, o desmaio dele e o roubo do seu tão valioso trompete centenário com cobertura de ouro. Aí, o trompetista quase desmaiou novamente.

Depois da directora ter explicado aos presentes que o trompetista não ia actuar devido ao seu nervosismo, a festa finalmente começou e entretanto os alunos continuaram a procurar o trompete centenário com cobertura de ouro. Por incrível que pareça até aos quartos de banho foram, mas este não aparecia. As buscas estavam a tornar-se uma perda de tempo.

Então decidiram chamar a polícia, mas o trompetista francês recusou essas “medidas drásticas”, como ele próprio disse, sabe-se lá porquê!

No fim da festa, que foi um êxito, um pequeno grupo composto por dois alunos, três alunas e a directora, ficou a conversar e a pensar qual seria o melhor sítio para o ladrão ter escondido o trompete, pois ninguém saíra da escola sem ser revistado.

Os alunos lembraram-se então que ao lado da escola vivia um velho e sinistro astrólogo, e logo o grupo concordou em irem fazer-lhe uma visitinha surpresa no dia seguinte, domingo, para lhe perguntarem se lhes podia adiantar alguma coisa.

No dia seguinte, logo de manhãzinha, como combinado, encontraram-se à porta da casa antiga e mal cuidada do astrólogo.

Bateram à porta, e quando o velho astrólogo foi abrir assustou-se um pouco ao vê-los, mas, depois de lhe terem explicado ao que iam, prontificou-se a ajudá-los. Em silêncio, sentaram-se à volta de uma mesa redonda coberta com um pano vermelho, e após breves segundos de profunda meditação, ele disse-lhes:

- O trompete está com alguém que esteve pela primeira vez na escola.

Todo o grupo ficou estupefacto perante aquilo.

A Joana foi telefonar à directora para ir a casa do astrólogo e este disse-lhe exactamente a mesma coisa.

O Miguel lembrou-se que tinha visto a bailarina num dos corredores da escola e que esta lhe pareceu estar muito nervosa; até lhe tinha perguntado se precisava de ajuda, mas ela respondeu-lhe que não, de uma maneira muito brusca e que se podia ir embora.

Então ela queria que o Miguel se fosse embora à “força”? Teria ela roubado o trompete centenário com cobertura de ouro? Uma outra rapariga do grupo disse que concordava com o Miguel, porque a bailarina era a primeira vez que estava na escola e deveria actuar em primeiro lugar, e que por ela se ter atrasado, sem ninguém ter chegado a perceber porquê, o trompetista iria ser o primeiro, e também se lembrou que quando fora procurar o electricista para arranjar a luz ele estava ao lado do contador da luz, todo a tremer e com ar suspeito.

Todos estavam ainda em alvoroço devido ao misterioso desaparecimento do trompete centenário com cobertura de ouro, mas as aulas que massacravam as cabeças dos alunos tinham de continuar. Porém, logo na segunda – feira de manhã, a meio da aula de Ciências, um funcionário interrompeu a cansativa explicação que a professora estava a dar sobre sismos. Trazia na mão uma carta muito esquisita pois o envelope estava coberto de luas e de estrelas. A professora ficou surpreendida e, mal tirou a carta do envelope magicamente adornado, Carlos (sempre o mesmo...) estava a baloiçar-se na cadeira... e caiu. Como por magia, da sua cabeça cabeluda começou a sair um fio de sangue vermelho. Tal como a Gata Borralheira à meia-noite, a professora perdeu todo o encanto e deixou, não um sapatinho de cristal, mas sim a carta, em cima da secretaria castanha e gasta pelo tempo para acompanhar o Carlos ao Hospital. Saiu apressadamente da sala de aula e uma grande rajada de vento entrou por uma velha janela e fez a carta deslizar pelo ar para um canto da sala. Miguel, que se tinha aproveitado da ausência da professora para brincar um pouco, apanhou a carta do chão de madeira e leu: «...viagem ao Japão... perigo... previ... cuidado... não podemos.... AMO-TE MUITO...!»

Miguel foi logo mostrar a carta aos seus colegas. Eles, ficaram muito admirados, voltaram a ler uma e outra vez para ver se conseguiam entender o significado daquela carta tão enigmática e perguntavam-se a si mesmos quem teria escrito aquilo. O João deu um salto e disse:

- Já sei...

- O quê? Quem foi? - Perguntaram todos em coro.

- Esta carta só pode ter sido escrita por uma pessoa que prevê coisas. Como diz a própria carta «...perigo...previ...cuidado...»

- Pois é!!! Exclamou o Miguel. – Isso explica as luas e as estrelas que estão coladas no envelope da carta. Só pode ter sido o astrólogo a escrever esta carta.

Todos concordaram. Será que o astrólogo tem alguma coisa a ver com o roubo do trompete centenário com cobertura de ouro? E a professora estaria metida no caso?

As questões pairavam no ar, ao mesmo tempo que os inquéritos continuavam através dos alunos, professores e funcionários dado o trompetista ter preferido a não intervenção da polícia no caso do roubo do seu trompete centenário com cobertura de ouro.

Devido ao facto do astrólogo ter dito que o trompete centenário com cobertura de ouro tinha sido roubado por uma pessoa que estivera pela primeira vez na escola, os inquéritos incidiam especialmente na bailarina famosa e na mãe do Pedro, professora da escola de Ballet, pois ambas tinham estado pela primeira vez na escola no dia da festa. Assim, no fim de um dia cansativo de aulas o professor de Matemática teve o cuidado de verificar se a mãe do Pedro o ia buscar à escola, para de uma forma discreta, averiguar o que ela sabia com respeito ao tão intrigante caso. E foi isso que aconteceu, deixando o professor intrigado pois, perante as suas perguntas, a mãe do Pedro ficou bastante embaraçada, revelando um ligeiro nervosismo.

Entretanto havia um jornalista, o Rui, amigo do Miguel, que soube por ele do roubo do trompete centenário com cobertura de ouro e que estava a tentar fazer uma boa história. Foi à escola à procura de novidades e quando chegou a casa tentou juntar todas as peças do puzzle, mas as peças não encaixavam; faltavam algumas...! Decidiu então que a partir desse momento ia, ele próprio, desvendar o mistério do trompete centenário com cobertura de ouro e vestiu o seu fato de detective.

No dia seguinte foi à escola novamente e esbarrou contra o João. Este, como ia com muita pressa nem reparou que deixara cair um bilhete. Rui apanhou-o e ainda tentou ir atrás dele, mas não o conseguiu alcançar. O Rui não resistiu e leu o bilhete: «João, a entrega do “presente” é no sítio combinado às 22 horas.» Assinatura ilegível. O Rui ficou muito intrigado com o que seria o “presente”. Lembrou-se então que um dia o João lhe tinha dito:

“- Vou dizer-te um segredo: o meu sonho é ser trompetista.”

Será que o João estava envolvido no caso do desaparecimento do trompete centenário com cobertura de ouro?

Meu Deus! Esta poderia ser uma grande oportunidade para o Rui se promover profissionalmente!!!

Era terça-feira, e, a partir das 13:00 o Rui não perdeu mais o João de vista, seguindo-o discretamente de aula em aula. O jovem jornalista tinha em mente uma brilhante reportagem e, enquanto pensava calmamente no seu sucesso como repórter, a policia entrou na escola bruscamente sem mais nem menos. No meio de toda a confusão, o Rui só teve tempo de ver o João a fugir, e, claro, de ir atrás dele, mas não conseguiu apanhar o seu fugitivo.

No dia seguinte, depois de andar algum tempo atrás do João, o Rui seguiu-o até um velho alçapão, que ficava num anexo à escola. O Rui pensou logo que o trompete centenário com cobertura de ouro estaria dentro do alçapão, mas entrar lá era muito arriscado, porque ele não sabia quem mais lá podia estar para a entrega do tão ansiado “presente”. Valeria a pena arriscar a vida e entrar?

O Rui estava com medo, mas também com muita curiosidade, ou não fosse ele um jornalista que se preza. Lá conseguiu pôr de lado o medo, ganhou coragem e entrou muito de mansinho no anexo. Qual não foi o seu espanto quando viu o João, caído, junto ao trompete centenário com cobertura de ouro! Mas mais espantado ainda estava o João! Será que alguém se lembrou de lhe pregar uma partida? Quem teria sido?

Quando o Rui viu o João deitado no chão, foi logo ter com ele, para ver como ele estava. O João abriu um olho de cada vez e disse-lhe que estava tudo bem, que só se sentia um pouco tonto. Mas algo estranho se passara, pois tinha uma pisadura na testa, que foi, provavelmente, provocada por um livro velho coberto de poeira e de teias de aranha, que se encontrava a seu lado.

Quem teria atirado o livro à cabeça do João?



Antes de retomar a conversa, o Rui pensou no que se estava a passar. Será que a pessoa que escreveu o bilhete queria ver se o João estava interessado no trompete centenário com cobertura de ouro e era capaz de ficar com ele, mas para isso não acontecer atirou-lhe com o livro à cabeça? Sendo assim, essa pessoa era o ladrão do trompete centenário com cobertura de ouro?

O Rui estava cada vez mais confuso e decidiu perguntar ao João se ele tinha visto quem é que lhe tinha atirado com o livro, mas ele, um pouco hesitante, disse que não. O Rui perguntou-lhe ainda se ele tinha alguma coisa a ver com o roubo do trompete centenário com cobertura de ouro e ele, mais uma vez hesitante, disse que não.

Enquanto havia tanta confusão, tantas dúvidas em relação ao desaparecimento do trompete centenário com cobertura de ouro, o Pedro tentou saber informações sobre o pai do João que era maestro, e descobriu uma história fantástica: «o avô do pai do João foi um grande trompetista e tocava com um trompete banhado a ouro. A certa altura, por motivos financeiros, teve que vender o trompete para salvar o filho. Esse trompete foi sempre desejado na família. O trompetista francês que estava em Portugal conhecia toda esta história e era um grande amigo do pai de João. Será que o desmaio do trompetista foi combinado? Onde é que estava o pai de João quando começou o espectáculo? Porque é que o trompetista não quis chamar a polícia?

O Rui continuava a fazer perguntas ao João sobre o trompete centenário com cobertura de ouro, mas o João negava sempre qualquer acusação.

Já havia vários suspeitos, mas o João estava a tornar-se o suspeito mais provável. O Rui não desistia de o seguir; ele tinha quase a certeza de que tinha sido o melhor aluno da escola o roubar o trompete centenário com cobertura de ouro! Para o Rui era muito provável, pois se o trompete centenário com cobertura de ouro tinha sido sempre desejado pela sua família, seria normal que o João o tentasse recuperar.

Na quinta – feira, quando o Rui seguia o João, as suas suspeitas confirmaram-se. O João entrou muito sorrateiramente pela porta junto ao quarto de banho dos rapazes e que dava acesso a um velho subterrâneo do tempo da fundação do edifício onde funciona a escola. Rui seguiu-o, espreitou, e viu o João a limpar um trompete com muito carinho e cuidado. Vendo bem, era mesmo o trompete centenário com cobertura de ouro do trompetista francês!

O João viu o Rui e, muito atrapalhado, apressou-se a explicar:

- O avô do meu pai não vendeu o verdadeiro trompete, mas sim um falso que o avô do meu pai mandou fazer. O presente que dizia no bilhete era este. Ele tem estado sempre aqui guardado, por isso é que eu tenho andado tão nervoso.

O Rui, que ficou muitíssimo espantado, perguntou-lhe:

- Mas tu afinal não sabes quem é que roubou o trompete centenário com cobertura de ouro do francês?

- Não sei, mas suspeito que tenha sido o astrólogo. Ele podia ter-nos enganado com as previsões. E a carta que escreveu à professora de Ciências? Não achas que é tudo muita coincidência?

E assim pairava no ar uma terrível confusão. Uma enorme baralhada de factos, um horrível mistério em que quase todos era suspeitos excepto o mais provável. Estavam a esgotar-se as oportunidades. Passou-se mais um dia e o caso ainda não tinha evoluído. E o pior é que nem se conseguia estar atento nas aulas.

Mas nessa tarde, a Joana recebeu um bilhete estranho. Dizia: “É preciso inteligência e rapidez…viagem ao Japão… pista: amanhã às dez horas na garagem palco… cuidado … silêncio …perspicácia… eu ajudar. A mais bela és”. Letra irreconhecível. Sem assinatura.

A Joana foi logo ter com o grupo e com a directora. Por incrível que pareça, todos tinham recebido a mesma mensagem. Uns por SMS, outros por escrito, e a directora por e-mail. Todos, excepto o João, que já nem comparecia às reuniões do grupo com a desculpa de estar muito atarefado.

Comparou-se logo a suposta carta do astrólogo com os bilhetes. Ambas referiam “viagem ao Japão”. Por isso, o bilhete era de alguém que estava dentro do enredo, mas que os ia ajudar, pois a mensagem dizia” eu ajudar”.

Decidiu-se, após breves minutos de reflexão e hesitação, ir ao local referido mas com cuidado, perspicácia, silêncio, cuidado, inteligência. Tal como recomendado pelo ajudante virtual.

Era uma garagem, que só era usada quando havia comemorações, muito antiga, à qual só tinham acesso os membros do Conselho Executivo, pois só eles tinham a chave. A directora da escola foi buscá-la mas...não estava no chaveiro! Como era possível? Quem a teria levado?

De qualquer maneira, eles dirigiram-se ao local. Oficialmente estavam na aula de Matemática, mas, como já era habitual ultimamente, à sexta-feira, o professor tinha faltado!

Para espanto de todos, quando chegaram à garagem atrás do palco, a porta estava semicerrada mas dava para entrar, o que todos fizeram com alguma hesitação.

Um sinistro silêncio e cheiro a mofo rodeavam aquele local. A Joana sentiu um arrepiante frio na espinha. Enquanto entravam, reparavam em cadeiras antigas que ainda não tinham sido restauradas, mesas todas sujas, relíquias de certa maneira valiosas, amontoados de trapos, de máquinas sem conserto possível, e bem lá no meio, por cima da mesa mais limpa e arranjada... o verdadeiro trompete centenário com cobertura de ouro, o do trompetista francês, dentro da sua caixa preta com um interior de um reluzente e macio veludo doirado. A professora e os alunos precipitaram-se para junto dele mas nem repararam que não estavam sozinhos. Enquanto todos acariciavam o trompete centenário com cobertura de ouro, algo saltou do telhado e foi direitinho aos ombros da Joana que emitiu um horrível grito.

Os outros, incluindo a directora, recuaram e depararam-se com algo inesperado. Alguém tapava a boca à Joana e era nem mais nem menos que o atarefado e doente João.

Deveria certamente estar muito doente, mas mentalmente.

A professora gritou:

- Tu?

- Eu estou aqui para vos ajudar.

- Mas como sabias que o trompete estava aqui? Tu não pertences ao bando, pois não? Perguntou a Joana, depois de se conseguir soltar do João com um energético estalo na cara e um bom pontapé na barriga.

- Joana, perdoa-me. Amo-te. És a mais bonita, mas eu meti-me num grande sarilho.

- Olha o Judas arrependido – exclamou a Joana.

- Deixa-o falar - pediu a professora.

- Não temos muito tempo. Quando convidamos o trompetista francês para a festa, juntou-se um grupo de pessoas para, em conjunto, roubarem o trompete. Assim era mais fácil distrair as atenções. Tudo isto guiado por um cérebro. Ele é que quer o trompete; os outros simplesmente ficam com algum dinheiro. Infelizmente, o meu pai é um desses e acabou por me meter a mim também na confusão, pois eu conheço bem esta escola. Os outros são o electricista e a bailarina. Mas o grande cérebro, o que jogou com tudo, é alguém de dentro. Só pode ser um elemento da escola,

- Mas quem? - Perguntou a professora. Tu não nos estás a enganar?

- Não, senão, não vos tinha mostrado o trompete centenário. Eu penso que tem que ser um professor ou professora. Mas a hora da verdade chegou. Dentro de quinze minutos todo o bando, inclusive o cérebro, junta-se aqui. Temos de fazer um plano para os apanhar.

- Mas como? - Perguntou um elemento do grupo.

- É fácil - respondeu João usando a sua perspicácia .Tiramos a chave da porta e deixamo-la aberta. Assim, entram todos e nós fechamo-los lá dentro. Entretanto, chamamos a polícia.

- Mas, João, o teu pai vai estar lá dentro também?

- Não. O meu pai arrependeu-se e fugiu. Só volta quando a polícia souber de tudo.

- Não achas que o cérebro pode ser a professora de Ciências?

- Não. Descobri que o bilhete lhe foi entregue por engano. Acho que era para o professor de Matemática.

- Mas o bilhete dizia “Amo-te muito”. E acho que o astrólogo não ia dizer isso ao professor de Matemática.

- E quem te garante que foi escrito pelo astrólogo?

- Vamos mas é embora. O tempo está a passar.



Foi o que fizeram. Foram embora, mas deixaram a porta aberta, sem a chave. Entretanto, esconderam-se, incluindo o João.

Passados dez minutos, começaram a entrar vultos para a sala. Quando todos tinham entrado (o João sabia quantos eram ao todo), fecharam a porta e trancaram-na. E felizmente que nenhum deles deu conta.

Chamaram rapidamente a polícia, que se pôs em cinco minutos no local e tomou a garagem de assalto.

Eis o momento dos prisioneiros desfilarem: primeiro, o electricista que tinha desligado a luz na festa e que depois a restaurou, a bailarina que havia sido paga para se atrasar e para desviar atenções, e, finalmente, o cérebro.

Quem seria? Os corações de todos batiam muito forte.

Eis o cérebro: o professor de Matemática.

A directora quase desmaiou. O organizador- ajudante, o seu noivo , era um ladrão qualificado.

Mas, e o astrólogo?

O professor de Matemática como sabia que os alunos iam lá fazer perguntas, tinha pago-lhe para ele mentir nas suas previsões.

Após tantas revelações num dia tão pequeno, todos estavam exaustos, e por isso, após os ladrões serem presos e o trompete centenário com cobertura de ouro ter sido restituído ao seu dono, todos foram para casa passar um merecido fim–de-semana. A Joana, essa, acompanhou sempre a directora que ficou em estado de choque.

O resto das revelações ficaria para segunda-feira. Agora era tempo de descansar e de ajudar o Rui a fazer a sua tão ansiada reportagem.